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22.8.12

Camiño Santiago

No final do mês de Julho eu, o meu filho (José Pedro) e mais uns amigos, fizemos o Caminho de Santiago, pela versão francesa. Na altura fui escrevendo relatos no facebook. Agora fui buscá-los e criei este texto sobre esta bela viagem.
 
Dia 0 - Sud express - :-D
Já cá vamos!!!



Dia 1 - S. Jean Pied de Port / Larrosoana (52km)
O primeiro dia foi magnifico com a travessia dos Pirineus.
Os 20km da subida deu para passar as nuvens, bem no alto. A descida até Roncevalles foi uma loucura. Bosques, raízes e inclinaçoes brutais.
Com tanta descida 5* a roda do meu Zé cedeu. O raio partido tornou logo a roda um pouco zarolha.


 


Dia 2 - Larrosoana / Puente la Reina (42km)
O dia de hoje foi para arranjar a roda. Em Pamplona passamos por 3 lojas e a terceira foi a certa. A loja Cycles Lasa conseguiram por a roda no ponto. A seguir veio o Alto del Perdon com os seus 800m cheios de calhau. Como o ânimo estava em alta o ritmo foi sempre a dar-lhe. Lindo!
Amanhã vem mais :-)
 
 
 
Dia 3 - Puente la Reina / Logroño (72km)
Terceiro dia foi muita estranho... Os bosques bem verdes com descidas fabulosas desapareceram. Agora vieram os longos estradões, num sobe e desce lento e chato. Juntamente veio o calor, que chegou aos 38º. A única diferença para o nosso Alentejo é que andamos sempre acima dos 700m e ao longe vêm-se enormes montanhas.
 
 

Dia 4 - Logroño / Grañón (64km)
Um pouco mais fresco durante a manhã (20º). Mas o calor voltou atacar ao meio dia. Muitos estradões, poucas árvores, sem single tracks. Já começamos a desejar as matas e bosques com o tempo mais fresco.
 
 

Dia 5 - Grañón / Burgos (68km)
Depois do calor veio o fresquinho (16º) e um "poquito" de chuva. Com esta temperatura foi bem mais agradável rolar pelos largos estradões. O mais engraçado do dia é a enorme quantidade de pessoas que estão fazendo o "camiño" a pé e de tantas nacionalidades diferentes. São franceses, italianos, alemães, russos, coreanos (?),..
Hoje também surgiu uma pequena "prenda" uma bonita subida por dentro de mata de pinheiros.
 
 

 
 
Dia 6 – Burgos / Carrión de los Condes (85,7km)
O “novo” albergue municipal de Burgos proporcionou uma boa noite bem dormida. A saída foi como de costume bem cedo. As paredes góticas da catedral reflectiam a luz alaranjada de um Sol ainda a acordar.
Já fora da cidade, os primeiros kms precorrem e
stradas rurais, que passam por bonitas aldeias com casas de pedra e janelas cheias de cor, devido às muitas flores.
Mais à frente voltaram os estradões de terra de bom piso que vai ondulando pela paisagem a fora, sempre acompanhado por extensos campos de girassóis e/ou searas de trigo.
A passagem pelas ruínas do convento de San Antón impressionaram, bem como o pequeno albergue construído no seu interior.
Poucos kms depois entramos em Castrojeriz, mais uma bela vila espanhola. À saída desta surge uma boa surpresa. Visto da vila parece uma parede, mas até se faz bem esta subida até ao Alto de Mostelares (900m).
Já perto de Fromista o caminho começa acompanhar o Canal de Castilla, que foi em tempos uma das vias de comunicação mais importantes da região. Hoje em dia é um paraíso para a vida selvagem.
Até Carrión de los Condes o caminho acampanha a estrada e é sempre plano.

 
Dia 7 – Carrión de los Condes / León (96,6km)
Em conversa com outros peregrinos anunciavam esta parte como o “deserto” até como o “inferno”. Em termos geográficos tem outro nome, Meseta Espanhola. Na prática... bom é do tipo entras numa recta e só sais dessa mesma recta 18kms depois. Que tal? Felizmente é plano como uma mesa, assim dá para rolar a boa velocidade. Agora, para os que vão a pé... Ui!! Não deve ser nada fácil.
E com o subir da temperatura ao longo do dia até uns “simpáticos” 42º o corpo vai secando. Inesperadamente corre água bem fresca, por canais de irrigação, bem ao lado do caminho. Bem bom.
A chegada a León marca o regresso aos costumes cosmopolitas.
 


Dia 8 – León / Molinaseca (97,3km)
Este dia marcou o regresso da montanha, mas antes destaco a passagem pela bonita cidade de Astorga. Seja, pelos muitos monumentos bem preservados, ou então pelos saborosos café acompanhados de churros. Uma maravilha.
Uns kms depois começa a famosa subida até à Cruz de Ferro (1500m). Apesar da temperatura estar mais uma vez bem alta (cerca de 40º) até se fez com calma.
A cruz até é pequena, bem no alto de uma coluna de madeira. Aos pés está um enorme monte pedras, muitas com inscrições, que faz parte de um ritual muito particular deste local.
Ainda em altitude surge o albergue de Manjarin, bem diferente e até exótico. A partir daí começa uma louca e estonteante descida até Molinaseca.
A chegada a Molinaseca prendou-nos com a nossa primeira (e única) noite dormida ao relento, com lindo céu estrelado.
 
 
Dia 9 – Molinaseca / Vila Franca de Bierzo (31,4km)
Etapa mais curta para descansar um pouco. A passagem pela cidade de Ponferrada impressionou com o seu castelo e ruas “tipo de cenário de filme histórico”. Além disso volatmos aos cafés com churros. Hhhhuuuuuuuuuuummmm!!! I like.
 

 
Dia 10 – Vila Franca de Bierzo / Portomarin (99,6km)
Desta vez partimos com os madrugadores. Ainda era bem de noite. Na vila nada se movia, excepto os peregrinos. Os primeiros kms foram por estrada bem escura. A cerca de 7kms surge a aldeia de Pareje e o respectivo pequeno almoço.
 
 
Com o nascer do Sol começamos a ver as montanhas que nos rodeiam. Um pouco mais à frente começamos uma das mais míticas subidas do Camiño Francês, o O Cebreiro (1296m). Durante a subida voltam os bosques e a temperatura mais amena. A subida tem zonas com muita pedra onde não é nada fácil subir montado. A meio da subida surge um grande marco em pedra, que simboliza a entrada na Galiza.
 
 
Mas, o melhor é a chegada à aldeia O Cebreiro, que parece um regresso ao passado numa máquina do tempo. Lindo.
Daqui descemos um pouco para voltar a subir mais uma vez até ao Alto de San de Roque com os seus 1275m. Daqui voltamos a descer e … nova subida até ao Alto do Poio (1335m). Esta com umas rampas bem inclinadas a exigir um empurranço da bicla.
Mas depois... bem... veio a saborosa descida até Tricastela. Sem comentários ;-)
A partir daqui o caminho circula por dentro belos bosques bem verdes, quase parecem cenários de histórias de ogres e fadas.
 
 
Na descida para Samos temos acesso a um miradouro que proporciona uma espantosa vista para o Mosteiro de Samos.
Até Portomarin o caminho só faz duas coisas. Ou sobes, ou desces.
 
 
Dia 11 – Portomarin / Monte Gozo (87,1km)
Com a saída de Portomarin surge uma das partes mais belas do Camiño. Bosques, subidas, belas descidas, ribeiras e pontes. Mas, também surge outra dificulade adicional, um aumento dos peregrinos a pé. Esta zona é daquelas que dá mesmo gozo subir, só para curtir a descida que vem a seguir. É mesmo uma zona do tipo “Must do it!”, para sentir como é 5*.
Para mim também marcou pela avaria da minha amada “menina”. Os linguetes deixaram de querer engatar :-( Ou seja, fiquei sem transmissão. Estava a cerca de 30km do Monte Gozo. Tão perto e tão longe. Mas o Camiño é sempre algo muito especial e mágico. A primeira ajuda veio da parte de um dos elementos do grupo, o Diogo, que com os seus robustos 16 anos conseguiu reborcar-me com a ajuda de uma corda. Apesar do esforço o andamento era lento. Até que surge a segunda ajuda, três moços de Portalegre, o Ângelo, o Hugo e o Nuno, aparecem assim como do nada e decidem como missão levar-me até ao fim. Num ritmo infernal umas vezes puxado, outras empurrado e outra ainda ambas, foi possível chegar ao Monte Gozo. O meu sincero obrigado a todos.
 
 
 
 

Dia 12 – Monte Gozo / Santiago de Compostela (5,4km)
Chegada a Santiago marca sempre o final, as fotos da praxe em frente da catedral, os abraços, o sorrisos, no fundo feliciadade.
Outro ritual importante é levar as credenciais para provar que fizemos o Camiño e receber a Compostela.
Depois??? Bom... depois é o regresso a casa que foi outra aventura.