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23.9.12

Vagueando pelos montes da Ericeira

Sábado, dia 22 de Setembro. Grandes ondas batem com violência nas rochas. O som forte e grave ressoa pelo ar. Abro os olhos lentamente. Ainda não sei se estou a sonhar ou a acordar. Vejo um pequeno clarão amarelo no meio de uma atmosfera laranja. Tudo se mexe, luz e sombras. E as ondas continuam a rebentar furiosamente... até parece que é ali mesmo ao lado. Mexo-me, rodo o corpo para o lado. Ui!!! Que sensação estranha, esta dor nas costas. Agarro no fecho e abro de forma desajeitada. Ar fresco! Aliás, mais para o frio. Saio, estico os braços e as pernas, limpo as ramelas. Nas barracas ao lado tudo se mantém calmo e sereno. A luz matinal do Sol atravessa os pinheiros e aquece-me aos poucos da minha letargia matinal.
 
Já com o banho tomado e saboreando um belo pequeno almoço à campista, começo a sentir algo estranho a fluir pelo meu corpo. É uma sensação nervosa, que aumenta o bater do meu coração. Não consigo estar sentado. Não consigo estar quieto... sinto um apelo enorme...
Quando dou por mim, estou ao lado do carro a tirar a minha bicicleta. Primeiro tiro o quadro, depois as rodas. Monto a da frente e de seguida a de trás. Ao rodar com a mão, esta última faz um som metálico nada simpático na zona do travão... Tiro a roda... e dou de caras com um problema... sinto uma certa iritação a entrenhar pelo corpo acima... Nesse mesmo momento, paira no ar o belo aroma do café. Paro tudo, seja a preocupação ou a irritação. Fui buscar uma chávena de café bem cheia. Voltei à bicicleta de café na mão. Olhei de novo para o tal problema... já não o vi... só via a solução. Minutos depois já estava pronta.
 
Ponho o capacete, remarco ciclómetro a zero e ligo o GPS. Ao sair paro um pouco antes de iniciar a volta. Fico um pouco por ali sossegado, a contemplar a zona. Aqui estou eu na terra do surf, com a minha bicicleta, determinado em conhecer os recantos da Ericeira.
Mesmo em frente ao parque passa a estrada nacional nº 247, que segue paralela ao mar. Olho para o GPS e sigo para norte. A estrada sobe ligeiramente até à rotunda do surfista. Depois de umas quantas tangentes bem assustadoras por parte de alguns condutores, decido ir para o passeio. No final da subida o passeio transforma-se num longo miradouro. As vistas para a costa são belas e impressionantes.
From September 22, 2012
O passeio continua por uma estrutura de madeira, a descer e com algumas zonas cheias de areia. O som das rodas na madeira lembra os comboios de antigamente. Entusiasmo-me com a descida e a velocidade aumenta. Ao chegar a uma ligeira curva vejo areia no chão. Hesito! Travo um pouco e as rodas escorregam. Ponho o pé fora do pedal e faço a curva à "super motard"... e aguento-me.
No final da descida viro para a esquerda, em direcção do mar e das falésias. Ao chegar à primeira rampa cruzo-me com dois bttistas que desciam alegremente. Infelizmente, o meu sentido era contrário, por isso toca a desmultiplicar para despachar esta "malandra".
Sobre estas falásias existe um louco emaranhado de trilhos, mas quase todos seguem a costa, proporcionando bonitas paisagens com pequenas praias no fundo das falésias.
From September 22, 2012
Aumento a escala do mapa no meu GPS. Isto ajuda-me um pouco a identificar o trilho a seguir. Não que seja o melhor. Mas, ao menos sei onde ando... Pelo menos, fico convencido disso. Enquanto pedalava entrei num enorme dilema. O trilho convidava a uma condução mais agressiva e curtir. Por outro lado, as zonas bonitas e panorâmicas são tantas que apetece fotografar tudo... Ai!!!!!
From September 22, 2012
Não resisto mais. Guardo a máquina de fotografar, encaixo o sapato no pedal com determinação. Carrego com força nos pedais. Aumento a rotação. Começo a sentir o ar salgado a bater na minha face. Depois de umas quantas curvas, descidas e subidas chego ao final. Nem sei por onde passei! Nem como era a paisagem... Só sei que o trilho é espectacular. Daqueles que fazem subir o batimento cardíaco.
Mas agora, estava de volta ao alcatrão, mesmo ao lado de um simpático hotel todo feito em madeira, o Coxos Beach Lodge.
From September 22, 2012
A praia dos Coxos marca a mudança na rota deste percurso que eu tinha no GPS. O track manda-me para um trilho quase invisível, mesmo ao lado da estrada. Depois de uma breve subida, entro num singletrack que convidava à velocidade. Só que estes singletrack's sofrem todos do mesmo mal, acabam depressa.
Ao sair do trilho entro numa estradinha com um aspecto de nova e um conjunto de moradias todas XPTO.  Algo dizia-me que havia um problema de navegação. Olho para o GPS e observo que o percurso segue, mas na realidade eu não o vejo! Parece que vai para dentro de uma dessas casas...
Bom... resta-me a tal estrada. Eu começo a pedalar e a estrada a subir cada vez mais inclinada, bem na direcção de um pequeno parque eólico. Como era o caminho mais certo segui-o na esperança de apanhar o track mais à frente.
Uma coisa é certa nos percursos de BTT, se existe no cimo de um monte um moinho, um conjunto de antenas ou (como neste caso) um parque eólico, é mais que certo que o percurso passa por lá.
From September 22, 2012
Este caso não podia ser diferente. O percurso passa mesmo pelo "tal" parque eólico. A altitude não é que seja muita. São pouco mais de 100 metros. Mas, o vento é bem forte. Ainda por cima com o vento na direcção mais chata... pois é, de frente! Ter que pedalar em plena descida para poder ir a uns miseráveis 16km/h é do caraças!
Já com os moinhos no horizonte, depois de uns quantos caminhos cheios de silvado e pequenos muros de pedra e umas quantas estraditas municipais, chego a Junqueiros. Esta pequena povoação fica mesmo no meio de um pequeno vale. E o mais importante, tem um café! Depois de dois dedos de conversa com o dono do café sobre donde vinha e para onde ia, e com a barriga reabastecida, bem como o meu bidon, volto a atacar o percurso. No café tinham-me dito que a subida iria ser...
From September 22, 2012
Pois... e tinha mesmo que ser uma subida à boa maneira. Relativamente longa, com cerca de 2km, mas cheia de pedra e regos da chuva, testando a tracção do pneu traseiro a todo minuto. Quando o caminho começa a subir reduzi logo para a "velhinha". E durante os dois quilómetros foi uma luta intensa, rezando para que a traseira tivesse tracção, mas ao mesmo tempo não perdendo a direcção. Ui!! Doeu! Mas, cheguei ao final sem por o pé no chão. Mas... tinha o meu coraçãozinho no red-line.
O percurso partir daí começa a regressar à Ericeira. Sempre por bons estradões e sempre em velocidade. Parece que é a descer sem ser, não sei se me percebem? A verdade, é que foi sempre à abrir.
Ao sair de uma curva em velocidade caio numa pequena armadilha da região. Os caminhos são bons e têm geralmente o piso bem compacto. Mas, no meio aparecem por vezes zonas de areia bem mole. E eu deixei a minha roda frente atascar-se no meio da areia, perdendo a direcção. Curiosamente, tive uma "data de mirone"s a observar a minha linda manobra. Umas bonitas e simpáticas vaquinhas olharam "cheias" de curiosidade...
From September 22, 2012
Após os "muitos" aplausos eu volto ao ataque pelos estradões abaixo até à Ericeira. Poucos minutos depois estava de volta ao cheiro mar, confortávelmente sentado numa agrdável esplanada, saboreando uma imperial bem fresquinha. Sabe mesmo bem VIVER e acreditem a VIDA é mesmo muita BOA. Sejam FELIZES!